quinta-feira, 5 de março de 2015

Mal Nenhum - Capítulo Três

A garota estava terminando de pintar os olhos com a sombra preta. Seu vestido vermelho combinava perfeitamente com o batom em seus lábios, assim como o sapato combinava com a maquiagem em seus olhos, mas os óculos brancos destoavam. Batidas desesperadas na porta a impediram de finalizar sua arte com calma.
- Quem é? - perguntou colocando o sobretudo rapidamente.
- Por fa-vor, abre a por-ta! - a voz chorosa de Bruce soou abafada e Annabelle revirou os olhos.
- O que você quer? - retrucou rude.
- Só abre! Preciso da sua ajuda! - a garota bufou e foi até a porta, abrindo assim que a alcançou.
O garoto que estava do outro lado da porta não estava nem um pouco parecido com o garoto que costumava ser um desconhecido e diferente no dia a dia. O olho roxo quase fechado, um corte logo abaixo e outro no lábio inferior. As lágrimas lavavam o resto de sangue de seu rosto e Anna, pela primeira vez, sentiu que devia ajudar Bruce.
- Entra. O que aconteceu? Alguém bateu no bebezinho? - ironizou enquanto Bruce entrava - Senta na cama. Tem algum outro machucado? - Bruce assentiu - Onde?
- No peito.
- Tira a camisa. - mandou e o garoto obedeceu.
Mesmo sentindo dor, ele não pôde deixar de admirar a firmeza da garota. Ela parecia saber muito bem o que fazer, mas iria querer saber tudo o que aconteceu.
Anna pegou um kit de primeiros socorros debaixo da cama e tirou os materiais necessários para os curativos de Bruce, mais dois rolos de bandagem.
- Quero ouvir o que te aconteceu, lerdo! - falou enquanto molhava o algodão no álcool iodado.
- Meu pai. Ele descobriu que minha madrasta veio aqui pedir minha ajuda para fugir dele. Ele a achou, não sei o que fez com ela e mandou os capangas dele virem aqui atrás de mim! - contou respirando fundo.
A garota começava a passar o algodão pelos cortes, depois de Bruce terminar de falar, ela passou para o corte dos lábios. Aquilo iria inchar logo.
- Que família! - resmungou e Bruce fechou os olhos.
- Violet é meu único modelo de carinho. Ela me criou desde os cinco anos. Foi minha mãe. - Bruce sussurrou e Annabelle parou o algodão, olhando fundo nos olhos do mais velho.
- Você é um garoto muito triste… Deita, tenho que passar pomada e enfaixar seu peito para não sujar nada. - disse e Bruce obedeceu.
- Você sabe fazer isso muito bem para alguém tão jovem. - comentou o rapaz e Anna sorriu.
- Sou uma futura médica. E médicos atendem até as pessoas que mais odeiam! - respondeu meio debochada e o rapaz riu, gemendo de dor ao fazê-lo.
- Você é realmente um mistério. Num momento está toda doce, no outro diz que me odeia. Se você for um sonho, Annabelle, não me acorde. - falou e a garota revirou os olhos.
Assim que terminou de enfaixar o rapaz ela foi lavar as mãos e voltou ajeitando suas roupas. Não era um detalhe como aquele que iria a impedir de sair aquela noite. De jeito nenhum!
- Pronto. Pode se vestir e voltar para o seu quarto. Boa noite, idiota! - disse e foi até a janela, colocando metade do corpo para fora.
-Não! O que vai fazer? Você não vai se matar né? - Bruce gritou dando um pulo para alcançar a janela e segurando Anna pela cintura.
A moça revirou os olhos e cravou as unhas no braço de Bruce, o fazendo solta-la com um “outch” de dor.
- Não sua anta. Faz cinco dias que eu não saio, meu auto controle sobre a abstinência de vodka está se acabando! Agora me larga que eu tenho que ir. - falou e fez menção de dar impulso para pular.
O dormitório que Annabelle estava era de três andares, seu quarto era no primeiro andar, uma altura baixa o suficiente para se pular com salto sem se machucar.
- Nem vem! Hoje você vai ficar aqui! Você só tem quatorze anos, se não quinze, muito nova para depender de vodka! Você fica! - o rapaz a puxou para si outra vez e a fez voltar para dentro do quarto completamente.
Annabelle se debateu e tentou se libertar, mas o rapaz a jogou na cama e fechou a janela, ficando na ponta da cama segurando os pés da garota com uma mão e tirando seus spatos com a outra.
- Dá para me deixar ir?! Você nem me conhece, nem é ninguém para mim! Por que você está aqui? - gritou e o garoto riu, puxando a pelas pernas para seu colo.
- Exatamente porque quero te conhecer. Mas vou ter que ser um chato e meio pervertido, por que, se você não parar de fazer birra para eu sair daqui, eu irei te colocar de roupa e tudo no chuveiro e entro contigo. - falou em um tom desafiador e a moça sorriu no mesmo estilo.
- Você não teria coragem. - o sorriso do rapaz se alargou.
Ele puxou a moça mais para perto e segurou com força a cintura dela, num piscar de olhos, eles estavam debaixo do chuveiro com Annabelle gritando que Bruce era louco e que nunca mais iria ajuda-lo. Coisas divertidas aos ouvidos de Bruce. Claro que aquilo era apenas o primeiro passo para ele. Nesses últimos dias, Annabelle era todo e qualquer pensamento de sua cabeça e ele faria de tudo para tê-la consigo.





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